quinta-feira, 16 de junho de 2011

Infância de Suburbano X

"Discoteca"

Era assim que chamávamos as festas de final de semana da minha rua, "Discoteca". Embalados por um filme onde os personagens de uma escola, cantavam, dançavam, e faziam M...o tempo inteiro menos estudar, embalados também bela chuva de músicas americanas nas rádios do nosso dial(a Rádio Mundial AM era a número um do meu dial),final de semana era dia de "festa americana". Refri para os garotos e comida para as meninas, a grande dificuldade era arrumar o local. Nenhum adulto queria que o baile fosse na sua casa...imagina? umas 20 crianças com idade entre 11 e 14 anos, dançando de 7 até as 10 da noite na varanda. Ficávamos a semana inteira cada um secando seus pais, ou secando os pais do amigo. Com a resposta positiva, agora era arrumar alguns LPs, gravar uma boa fita BASF com os sucessos do momento, comprar uma pastilha para colocar no bocal da lâmpada do abajur,criando um estroboscópio, ensaiar alguns passos de dança, e no dia aparecer bem vestido. Sapato a lá Toni Tornado, calça boca de sino e blusão de botão aberto.Todos devem lembrar disso com muitas, muitas saudades, talvez o único ponto negativo é lembrar ter dançado "Macho Man" achando que estava fazendo algo bem masculino.Grande Village People.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Infância de suburbano I

Vou passar a relatar alguns aspectos da minha saudosa infância no subúrbio, era uma época boa, apenas isso, porque a época muito boa foi a dos meus Pais, e eles sempre diziam que no tempo deles era muito melhor, que eu e meus amigos não tínhamos idéia do que era ter infância...Hoje eu me vejo falando a mesma coisa para os meus filhos, sinal dos tempos. A memória mais antiga que eu tenho é do meu jardim de infância, me lembro perfeitamente, era uma sala pequena, que tinha uma paisagem de um dia ensolarado pintado na parede, professora Nêli sempre com um sorriso e toda a paciência do mundo, me lembro da hora do lanche, do meu amigo José Angel que estudou comigo até a antiga 6ª série, fazendo o seguinte comentário: "Esse garoto sempre come todo o lanche para depois beber, que engraçado". Para mim, com certeza, essa é a minha recordação mais antiga, é certo que antes disso aconteceram fatos que talvez eu devesse lembrar, eventos de felicidade como um aniversário, ou de tristeza como um tombo ou machucado, mais o meu cérebro registra essa imagem claramente, um dia normal de escola, lanchando com os amigos, com a professora por perto. Outra imagem que me recordo foi de um filme que vi, na verdade um desenho, era sobre um garoto que aparecia todo sujo, que não tomava banho, que não se vestia com roupas limpas, que vivia com "mosquinhas" sobrevoando a cabeça, isso mesmo, lembro bem, mosquinhas na cabeça. Durante muito tempo da minha infância eu chamei esse garoto de “sujesmundo”, vai entender. Essa é apenas uma leve imagem de um desenho visto em um local não me lembro onde, nem com quem, mais que segundo minha Mãe, me ajudou muito.Meus pais relatam que eu quando bebê vivia pelado, e fazia as minhas necessidades fisiológicas, em qualquer lugar, isso mesmo, eu literalmente cagava em tudo, no chão do quarto, na sala, na cozinha, pasmem, no quintal, cagava e queria bater na merda achando que fosse um bicho, minha Mãe relata que meus irmãos achavam isso um barato, fazer o que né. Essa minha, digamos, mania de merdeiro só parou após eu assistir ao filme do garoto que tinha mosquinhas na cabeça, era o “sujo e imundo", que durante anos eu chamei de forma errada, com certeza esse filme foi minha primeira aula, com direito a dever de casa, a tarefa que ficou clara foi: crianças não podem andar peladas e cagando tudo. Funcionou.

Infância de suburbano II

No subúrbio é assim, sobre espaço em casa e na rua para você fazer m....de todo o jeito que quiser. A casa onde morava tinha um bom quintal na frente, com garagem para o carro e sobrando espaço para brincar, na parte de trás da casa também tinha espaço suficiente para algumas árvores frutíferas, que comentarei mais a frente, e o terreno atrás da casa era vazio e pertencia ao meu tio, imagina um terreno todo para brincar. Lembro-me que tínhamos um galinheiro em casa, com direito a galo e galinha dentro, não era enfeite não, nos meus primeiros anos de vida esses eram os animais da minha casa, além de um papagaio que só falava “louro, louro”. Volta e meia eu tentava criar “pintinhos”, sem duplo sentido por favor, vamos entender. Semana sim semana não passava um carro anunciando a troca de pintinhos por garrafas velhas, eu não perdia uma promoção, sempre que possível pedia a minha mãe para trocar, colocava os bichinhos em uma caixinha, mas não me lembro de ver nenhum virar uma galinha. Era o maior barato ter pintinhos, pareciam bolas com asas, você jogava eles para cima, e os bichinhos sempre amorteciam a queda, nunca quicavam. Eu não era uma criança má, era apenas divertido ver os bichinhos “voando”. Malvado foi meu irmão mais velho, que após fazer uma horta no quintal da nossa casa, teve todo a sua colheita devorada pelos recém chegados pintinhos. Após notar que todo seu esforço serviu de banquete meu irmão torceu o pescoço de todos, nunca mais troquei pinto por garrafa.Todos devem estar imaginando onde estão os cachorros dessa casa, a minha casa era uma das poucas que não tinha cachorro, minha mãe não gostava, e não gosta até hoje. Um belo dia meu pai levou um cachorro para casa, chegou com ele na hora do almoço, meu irmão caçula adorou, era um vira lata ainda pequeno, que por ser todo preto ganhou rapidamente o apelido de pretinha, na verdade tratava-se de uma cadela, foi uma festa. Corre daqui, chama a pretinha para lá, o maior barato, até que minha mãe perguntou para o meu irmão caçula: Você gostou dela? Então escolhe, se ela ficar mamãe vai embora. Antes do café da tarde não tínhamos mais cachorro. Para compensar, acho eu, meu irmão ganhou um coelho, que não era a mesma coisa que o cachorro, e muito menos parecido com os pintinhos, pois o coelho nunca amortecia a queda quando era jogado para cima.

Infância de suburbano III

Com todo esse espaço nas casas suburbanas, sobrava bastante lugar para árvores frutíferas, no meu quintal tínhamos abacateiro e goiabeira, os dois vizinhos laterais tinham mangueiras, as mangas caiam no meu quintal literalmente, na vizinha mais ao lado tinha carambola, e na rua tinha amêndoas brancas e roxas. Ainda hoje quando vou à feira e não compro nem abacate e nem goiaba, eram frutas que eu comia em casa, tirava da árvore e comia, não consigo pagar por algo que brotava no meu quintal. Comentei anteriormente que na minha casa tinha um galinheiro, não significa exatamente que no subúrbio se criava galinhas como na roça, mais eu me lembro que a minha mãe comprava galinhas vivas para levar para casa. Para que pudéssemos comer era preciso que minha mãe transformasse aquele animal em alimento. Querem saber como? Simples, primeiro cortava-se o pescoço, depois, se não me falha a memória, tinha que colocar na água fervendo para tirar as penas, então era só temperar, levar ao fogo e servir. Crianças criadas no subúrbio assistem tranquilamente a qualquer filme do Arnold Schwarzenegger, sem nenhum trauma.

Infância de suburbano IV

A minha rua também era privilegiada em termos de espaço, eu morava numa rua que bifurcava, (bifurcar – v.t.d. separar (-se) em dois ramos) então assim que a rua foi asfaltada, os “caras grandes”, era assim que nós crianças tratávamos os mais velhos, fizeram a marcação de uma quadra de futebol de salão, podíamos jogar bola sem problemas, pois os carros não passavam na “quadra”, era assim que chamávamos esse espaço, quadra. Durante muito tempo não liguei muito, ia jogar bola mais ficava olhando as pipas no alto, não dava a menor atenção ao jogo, só depois de muito tempo é que me transformei no maior fominha de bola da rua. Todo esse espaço proporcionava as crianças várias possibilidades de brincadeiras, uma das melhores era jogar linha de passe na porta de um amigo nosso, que tinha na calçada um poste e uma árvore com uma distância ótima para servir de gol. Durante boa parte da tarde não dava para jogar na quadra, sol e asfalto não combinam muito, tínhamos que esperar o sol baixar, enquanto isso, linha de passe. O único problema é que as duas vizinhas desse meu amigo furavam todas as bolas que cainham no seu quintal. Isso era ruim, tomávamos o maior cuidado, mais às vezes não tinha jeito, a bola caía lá, e já era. Foram muitas bolas, porém um dia demos o troco. Era dia de São Cosme e São Damião, só um real suburbano sabe o que isso significa. Doces, muitos doces, e principalmente a farra para pega-los, acho que essa era a melhor parte, conseguir pegar o maior número de sacos de doce, para isso valia tudo, já vi amigo meu se passando por doente mental para furar a fila, não tinha dona de casa que não se comovia com um garoto segurando no pescoço do outro, todo “tordinho”, babando pelo canto da boca, sempre funcionava. Durante um dia de São Cosme e São Damião, eu e meus amigos decidimos nos vingar de todas aquelas bolas furadas, foi um decisão em grupo, nego até o fim que a idéia tenha partido de mim. Nosso “plano” foi o seguinte, no subúrbio existiam pessoas que davam doces com hora marcada, eram distribuídos cartões com o local e horário para pegar os doces, quem não tinha cartão não adiantava nem chegar perto. Fizemos isso, compramos cartões e preenchemos com endereço da nossa grande amiga furadora de bola, alguns se encarregaram de distribuir pelo bairro, no horário mercado sentamos e aguardamos. Foi a maior zona! O primeiro que chegou chamou pela dona da casa e foi prontamente posto para correr, diga-se de passagem, uma pessoa que fura bolas só porque elas caem no seu quintal não deve ser muito simpática. O segundo e o terceiro também foram postos para correr, mais de repente já havia um grande grupo, para nós era uma “multidão”, acho que distribuímos entorno de 50 cartões, imaginem as pessoas na porta gritando e balançando o portão: “queremos doce, queremos doce”. Esqueci de comentar que essa bela “senhora” tinha uma espingarda, que foi algumas vezes mostrada para nós durante as vezes em que jogávamos bola perto da casa dela. Não deu outra, na hora do tumulto, aquela gritaria, a molecada xingando, surge à bela “senhora” com a espingarda, correria total, gente se escondendo, um verdadeiro caos, e ficou esse jogo de ameaça, ela dizendo que ira atirar e a galera querendo doce, não deu outra, chamaram a “joaninha”, (nome popular dado aos fuscas que faziam parte da frota de carros de polícia), tomaram a arma dela, conversa daqui, alguns vizinhos interferiram, e após alguns momentos tensos chegaram a conclusão que não havia doce, que tudo não passava de um “mal entendido”. Infelizmente, nem eu e nenhum dos amigos tem detalhes maiores, pois apenas observamos de uma distância segura, porém a historia vazou e a brincadeira foi atribuída a minha pessoa e a de um amigo meu, correu o boato que nós éramos os “cabeças” de tudo. Imaginem só, atribuírem uma maldade dessas a um simples garoto de subúrbio.

Infância de suburbano V

Existem algumas lendas da minha infância que acho eu, eram típicas do subúrbio, “rato morto vira morcego” era uma delas. Lembro-me do “portuga” (apelido carinhoso para não citar o nome dele) que tinha um terreno vazio bem atrás da nossa “quadra”, o terreno era sempre mantido fechado e tínhamos que tomar cuidado para a bola não cair lá, o portuga mantinha uma pequena horta e tinha um “pé de cajá manga” do qual ele morria de ciúme, e com razão, pois a fruta era deliciosa, e quando estava madura a bola sempre caía lá. Mas vamos a historia do rato morto, nosso portuga tinha seus momentos, uma das coisas que ele mais gostava era presentear a galera com ratos, isso mesmo, ele tinha uma armadilha para pegar ratos, era uma gaiola grande com algumas iscas, depois que o rato entrava já era. O que fazia ele? Trazia a gaiola com um ou dois ratos, jogava álcool nos futuros morcegos, nisso todos nós já tínhamos pau e pedras na mão, seu portuga “acendia” os ratos e abria à gaiola, imaginem a cena... Várias crianças correndo atrás de ratos em chamas tacando pedra e dando pauladas, vida de rato na minha rua não era mole não. Depois do óbito sempre ouvia a mesma historia, “agora vão virar morcego”. Outra lenda era a seguinte, toda vez que furasse o pé com prego tinha que levar o prego para casa e espetar no prego uma cebola. Olha o problema, a dor de furar o pé, o desespero de ver seu sangue, e ainda tinha que levar o seu “agressor” para casa, se não colocasse o prego na cebola o machucado não iria fechar. E claro que junto com isso tinha que tomar uma injeção que doía muito. Desse jeito parece que criança do subúrbio só se machuca né, não só parece como é verdade. Lembro de ter visto osso e tripa algumas vezes. Sabe aquela raspada na canela? O sangue que demora aparecer e fica “aquela coisa branca”? Não pensávamos duas vezes, “caramba, apareceu o osso!”. E o “galo na cabeça”? Tinha que ser devidamente apertado com uma colher, dessa forma o galo não iria crescer. Mais a maior de todas as lendas era a loira que aparecia no banheiro das escolas para raptar crianças, mais essa merece uma capitulo a parte

Infância de suburbano VI

Quem nunca ouviu falar que para curar o terçol, era preciso passar uma aliança aquecida no local? sem duvida nenhuma uma recomendação científica. Mais a campeã de todas as lendas ,na minha opinião, era a loira do banheiro que aparecia para raptar crianças, principalmente em escolas. Ela aparecia sempre de branco e com algodão no nariz, muitos acreditavam que ela se tratava de uma "alma penada", e outros que era de carne e osso, e por que incrível que pareça tem gente que até hoje acredita que ela exista, e que pode aparecer a qualquer momento. Antigamente era muito comum as pessoas terem na parede do quarto, acima da cama, um Terço, com uma cruz de uns 30 cm e um colar, de mais ou menos, 1 metro de diâmetro. Pois bem, imaginem alguém usando um Terço desses no pescoço? Pois foi o que aconteceu quando eu ainda estava no ginásio,um aluno com receio de ser raptado colocou um Terço desse no pescoço e foi para escola, e coitado daquele que tentasse convencer ele do contrário, como diria o menino prodígio, santa proteção Batman!